Lembra-se de que comentei por aqui, uma certa vez, que traria temáticas referentes a literatura e história para os posts? Pois é, agora teremos efetivamente uma parte no blog dedicada a tais temas; não necessariamente relatarei sobre os mesmos em ordem cronológica. Comecemos, então, com uma parte que me encanta: a produção literária da primeira época medieval, vulgo Trovadorismo.
Ainda que Portugal tenha conhecido, durante o primeiro período medieval, manifestações literárias na prosa - como as novelas de cavalaria - e no teatro - como os autos -, foi a poesia que alcançou grande popularidade, tanto entre os nobres das cortes quanto entre as pessoas comuns do povo.
Uma das razões para essa predominância foi o fato da escrita ser pouco difundida na época, o que favorecia a disseminação da poesia, pois era memorizada e transmitida oralmente. Os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de dança e, por esse motivo, foram denominados cantigas. Os autores dessas cantigas eram trovadores (aqueles que fazem trovas, rimas), originando a denominação Trovadorismo. Esses poetas geralmente pertenciam a nobreza ou ao clero e, além da letra, criavam também a música das composições que executavam para o seleto público das cortes. Entre as camadas populares, quem cantava e executava as canções, mas não as criava, eram os jograis.
As cantigas foram cultivadas tanto no gênero lírico quanto no satírico. Dependendo de algumas características que apresentam - como o eu-lírico, o assunto, a estrutura ou a linguagem -, elas podem ser organizadas em quatro tipos. No gênero lírico: cantigas de amigo e cantigas de amor; no gênero satírico: cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.

As cantigas de amigo têm raízes nas tradições da própria península Ibérica, em suas festas rurais e populares e em sua música e dança, nas quais abundam vestígios da cultura árabe. Apresentam normalmente ambientação rural, linguagem e estrutura simples; seu tema mais frequente é o lamento amoroso da moça cujo namorado partiu para a guerra (e essa é a parte clichê).
As cantigas de amor têm raízes na poesia provençal (de Provença, no sul francês), em ambientes aristocráticos das cortes francesas e, portanto, prendem-se a certas convenções de linguagem e de sentimentos. Nessa cantiga, o eu lírico é um homem que pergunta à mulher amada por que ela não corresponde a seus sentimentos. Não se voltando essencialmente para a musicalidade, as cantigas de amor costumam ser mais trabalhadas do que as de amigo, principalmente no que se refere às ideias e às emoções.
Cantigas de escárnio e cantigas de maldizer

Menos presas a modelos e convenções do que as cantigas de amigo e de amor, as cantigas satíricas buscam um caminho poético próprio, explorando diferentes recursos expressivos. Voltavam-se para a crítica de costumes, tendo como alvo diferentes representantes da sociedade medieval portuguesa: clérigos devassos, cavaleiros e nobres covardes na guerra, os próprios trovadores e jograis, etc.
Embora as diferenças não sejam rígidas, nas cantigas de escárnio geralmente o nome da pessoa satirizada não é revelado. A linguagem normalmente é carregada de ironia, de sutilezas, trocadilhos e ambiguidades. Já a cantiga de maldizer costuma identificar o nome da pessoa satirizada e fazer-lhe uma crítica direta, em forma de zombaria. A linguagem é mais grosseira, por vezes obscena.
Fonte: Livro Português Linguagens, Volume 1
E então, gostou da temática? Espero que sim! A propósito, esse foi um dos posts que mais gostei de criar, e, se tudo der certo, você poderá encontrar por aqui, posteriormente, mais posts sobre produções literárias.
Até mais!
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